
Inspirado num sonho dessa noite encontrei o tema de hoje. De forma bem resumida, meu sonho era uma segunda retirada dos móveis e todas as bugigangas que gostamos de acumular ao longo da vida que ficaram na casa da minha falecida mãezinha. Essa experiência aconteceu realmente quando ela fez sua passagem para o lado de lá em que tive que liberar a casa onde ela morava de aluguel. Nesta segunda vez, ela estava presente. No sonho eu sabia que ela tinha partido e ela também, mas voltou pra ajudar a mostrar o que era importante levar e o que deveria deixar pra trás... Ela foi tirando muitas coisas do lugar, queimando um monte de papéis, fez três pilhas enormes de comprovantes de contas pagas antigas que ela sempre acumulou, separou algumas panelas e deixou outras para trás, foi fazendo a faxina do jeito dela. O que me intrigava era que eu já tinha feito isso logo depois da sua morte e como a casa ainda estava com parte dos móveis lá? Quem estava pagando esse aluguel? A casa estava fechada há anos, muito empoeirada, mas do jeito que ela tinha deixado. No sonho não vi o fim dessa faxina, até porque tinha muita coisa pra mexer, não daria tempo num sonho só! Mas brincadeiras à parte, este sonho me passou o recado que eu precisava receber.
A necessidade da faxina das coisas do passado. Ao longo da vida vamos usando algumas coisas até se esgotarem, outras usamos um tempo e depois guardamos, outras guardamos sem usar, vai que precisa um dia né? Tudo que acumulamos fica ocupando espaço em nossas vidas e quando queremos algo novo nem sempre é só comprar; é preciso se desfazer do velho como é o caso de um jogo de sofá. Normalmente temos que trocar porque não tem espaço na sala para o velho e o novo juntos.
Assim acontece com nossos sentimentos. Acumulamos sentimentos que interagimos com ele um tempo e depois deixamos guardados. São as emoções afetivas com pessoas que interagimos uma parte de nossas vidas e depois se vão, não porque morreram, mas porque mudaram de cidade, de emprego, de escola, porque a relação não foi pra frente em alguns namoros, por exemplo. Já os sentimentos que nem chegamos a usar são as mágoas, as frustrações, vontades reprimidas que não puderam ser vividas e ficaram guardadas em algum lugar dentro da gente. Dependendo do lugar e da quantidade dessa bugiganga de sentimentos fica tão cheio que estraga outras coisas. É como se entupisse um armário de ferramentas velhas e enferrujadas, pregos tortos, parafusos que nunca vou usar, retalhos de madeira tudo bagunçado e misturado, socado ali dentro a ponto de empenar as prateleiras.
Fazendo a analogia da casa ela representa nosso corpo. Os vários móveis são nossos órgãos, partes desse corpo. Os objetos e utensílios da casa são as emoções, o registro sentimental de todas as nossas experiências ao longo da vida, ao longo da morada dessa casa. Estamos constantemente vivendo as emoções, algumas mais que outras e nem todas são desagradáveis. Algumas ficam guardadas num lugar adequado e útil, são práticas e ajudam a embelezar a casa. Outras são joias raras guardadas por um tempo num cofre até serem usadas com muita alegria no momento certo. Mas para estas boas emoções terem espaço é preciso se livrar das emoções ruins. Aquelas que nos fazem mal. Neste caso não dá pra aumentar a casa, moramos de aluguel. Fizemos um contrato de locação com prazo de validade. Podemos até embelezar um pouco a casa, mas não dá pra ampliar, criar um braço a mais, fazer um puxadinho. Então só nos resta cuidar dos móveis e tudo aquilo que precisamos organizar no melhor lugar possível. E aquilo que não nos serve mais, aquilo que tá velho, enferrujado, quebrado, só ocupando espaço que poderia ser útil para coisas melhores... dar fim! Jogar fora! Reciclar se for possível, mas não para trocar seis por meia dúzia. Recicle se for ter uma utilidade, do contrário não vale o esforço. Liberte-se daquilo que torna sua vida um fardo. Guardar muita coisa, muita emoção vai exigir mais de você. Vai gastar mais energia na faxina de tantas coisas ou não terá energia e essas tantas coisas vão sofrer com a poeira, a sujeira e vai afetar os móveis onde estão. As emoções abandonadas e não olhadas podem afetar nossos órgãos. Um dos principais motivos para nossas doenças físicas.
Eu poderia ficar escrevendo isso por muito tempo mas acredito que já passei a mensagem. Evitem acumular aquilo que não presta sejam objetos sejam emoções. Abram espaço para coisas novas. Abram seus corações para bons sentimentos. Acostume-se a curtir as coisas boas da vida com a família e amigos. Vá para o meio da natureza, desfrute dos cantos dos pássaros, o som de uma cachoeira, o barulho das ondas do mar. Faça a faxina. Silencie a mente, medite mais, ouça seu coração dizendo o que deve ficar nele e o que deve sair. Se deixar como está e continuar acumulando emoções ruins poderá viver no meio de um entulho tão grande que se tornará parte dele. Sua vida pode se tornar um lixo. Mas isso depende de você. Depende de mim. Depende de cada um de nós. Não adianta querer limpar a casa do vizinho, do bairro, do país, do mundo todo se a nossa casa tá suja. Vamos olhar pra gente e ter o autocuidado de ter uma casa limpa, cheirosa, organizada e sempre pronta para receber a família e amigos. Vou ficando por aqui porque tenho uma casa para arrumar e aguardar os amigos em breve. Se alguém quiser me convidar pra tomar um cafezinho é só chamar. Fique tranquilo que não vou reparar na bagunça, sei como é.
Por Robert Casemiro
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